Polvo Poético

Hoje saí às ruas, uma vez mais

com um projeto na mente, uma idéia latente

o de tocar toda gente que pudesse cruzar, acarinhar

com um pouco de razão, outro tanto de emoção

Como um polvo se aproximando do cais.

Fui devagar, com o coração expectando

algo realmente importante

sentia que poderia acontecer,

que fizesse toda a diferença, todo o sentido que faltava

naquela proposição de humanidade.

Poéticos tentáculos iriam envolver

circundar, dizer e desentristecer pessoas.

Simpáticos feitores compartilhar, dadivar,

abastecer seres humanos de carinho.

E isso foi feito, como planejado.

Porém o objetivo atingido

deu vazão para uma nova razão,

um real significado para tudo aquilo,

algo que me fez ver o quanto sou importante e pequeno ao mesmo tempo.

Mendigos caídos, crianças se drogando,

Fedores exalando pena, lástimas, crime.

Sujeiras colorindo quadros em preto-e-branco

há muito já pendurados.

Mijos misturados à pedidos

de ajuda, de reconhecimento e de todo aquele carinho

que estávamos lá para oferecer.

O polvo se deparava com a cidade

em sua total realidade, inexorável.

Eu, feitor, me embriagava num misto de coragem,

piedade, poesia, compaixão e alegria.

Moradores de um gueto não tão miúdo,

normalmente esquecidos e dilatados

por nós mesmos nas ruas sem saída,

se transformaram em público,

em pessoas, em seres passíveis de apreciação,

de envolvimento, de compreensão pelo que dizia.

Os poemas vivenciados por nós polvos,

os tocavam de dentro para fora,

exatamente como se deve ser.

E eram agraciados, revelados sensíveis e humanos como os são!

O projeto, em mim, se transformara

como eles, quando um sorriso de um deles

me pediu que retornasse alí, naquele mesmo lugar,

num dia qualquer depois daquele,

para que eu pudesse ouvir e viver

da poesia feita à mim por ele.

E assim, o Polvo Poético, em mim

passou a ser necessidade, obrigatoriedade,

para que de humanidade eu possa dizer

que seja pleno, alimentado e totalmente presenteado.

Juliano Hollivier - São Paulo

13 de Março de 2011



Comentários

  1. Caros do Sensus, foi realmente gratificante ter conhecido vocês e presenciado estas cenas relamente unicas no universo das ruas de SP.
    parabens mesmo pelo trabalho.

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